"Uma vida dividida com os mais pobres e oprimidos" Leonardo Boff recebe medalha Pedro
Ernesto na Câmara do RioCerca de 200 pessoas lotaram o plenário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro (CMRJ) nesta segunda-feira para assistir a entrega da Medalha Pedro Ernesto ao professor, teólogo e escritor Leonardo Boff. A homenagem, que é a maior comenda do Município, foi proposta em 1996 pelo então vereador (hoje deputado federal pelo PSOL) Chico Alencar. O vereador Eliomar Coelho (PSOL) fez o requerimento para a homenagem esse ano, porém se constatou a existência da proposta 2928/2006, que já tinha sido aprovada por unanimidade. Como Boff não a havia recebido ainda devido ao silêncio obsequioso imposto pelo Vaticano à época, Eliomar tornou-se realizador da homenagem.
Estavam presentes ao evento, que durou cerca de duas horas, o Deputado Chico Alencar, o Deputado Estadual Marcelo Freixo (PSOL), Shirley Orozco, cônsul do Estado Plurinacional da Bolívia no RJ, Miguel Baldez, professor e Coordenador do núcleo de Loteamentos da Procuradoria Geral do Estado, Marina dos Santos, membro da Coordenação Nacional do MST, Tereza Cavalcante, teóloga e professora universitária. Nos intervalos das homenagens lidas e proferidas, números musicais com o Coro da Camara Municipal do Rio de Janeiro, sob a regência de Cássia Borja, além da voz de Lucio Sanfilippo, com Tiago Prata no violão.
Discursos e mensagens
Uma série de homenagens foram proferidas. O Vereador Reimont (PT), primeiro a falar na tribuna, disse que, na verdade, "a medalha é que o (Boff) recebe, a medalha é que o tem." Relatou que aprendeu com o homenageado, quando foi seu aluno de Teologia em Petrópolis, que Jesus Cristo "é mesmo libertador quando nós nos comprometemos com os pobres". Aprendeu também a tomar "um chá de povo, ir ao encontro das classes minoritárias" quando a chateação lhe chegasse.
Dos que não puderam estar presentes à cerimônia, enviaram mensagens de parabéns à Leonardo Boff os vereadores Andrea Gouvea Vieira (PSDB), Stepan Nercessian (PPS), Vera Lins (PP), Aspásia Camargo (PV), Clarissa Garotinho (PR), Carlo Caiado (DEM), Roberto Monteiro (PC do B) e Sebastião Ferraz (PMDB).
A seguir, Eliomar Coelho também homenageou Boff e antes de descrever sua biografia, declarou que a entrega da Medalha era mais que especial. "Leonardo Boff é a expressão de uma vida dividida com os mais pobres e oprimidos. Sua biografia é conhecida por todos e revela sua opção.
"O professor Miguel Valdez, que conheceu o teólogo na UERJ quando coordenava o curso de Direito Social, declarou que Boff encontra na solidariedade os fundamentos para a construção de um novo Direito. "Realmente foi um dos esteios do curso. Era um curso crítico. E para nós era fundamental contar com um homem universal como o Boff", resumiu.
Tereza Cavalcanti, grande amiga do homenageado, disse que Boff soube aproximar a Teologia do homem. "A Teologia que o Leonardo traz é uma Teologia viva, que tem força, tem sabor. Nós merecemos um teólogo como Leonardo", declarou.
"Boff é um entusiasta natural do MST", disse Marina dos Santos. A seu ver, os bens naturais estão em disputa pelo capital para garantir lucro , gerando prejuízos para a Humanidade. "Os ensinamentos de Leonardo Boff precisam ser colocados em prática, sobretudo valorizar a natureza, os bens naturais e não deixar de lado o saber-cuidar das pessoas, do conjunto da vida", concluiu.
Marcelo Freixo relembrou ter conhecido Boff em 1996 em Niterói, quando era coordenador de um projeto de educação em presídios. Ao explicar sobre o projeto, Boff disse-lhe: "trabalhar com os presos é remar contra a amnésia da sociedade". "Todos que defendem a vida, direitos humanos e educação pública beberam na fonte de sabedoria e das atitudes de Leonardo Boff", declarou Freixo.
Shirley Orozco ressaltou a atuação de Leonardo na questão ecológica. "Nunca teve tanta importância e repercussão como nos últimos tempos: a concepção dele (Boff) na linha ecológica e humanista e o paradigma da relação do Homem com a Natureza". Shirley disse também que o Brasil "foi muito bem representado por Leonardo", referindo-se a participação do Teólogo na recente Conferência Mundial dos Povos sobre Mudanças Climáticas e os Direitos da Mãe Terra ocorrida em Cochabamba no mês passado.
Em seu discurso, Chico Alencar fez referências literárias para descrever sua honra em participar do evento, citando nomes como Chico Buarque e Geir Campos. "(a homenagem a Boff é) A celebração, o culto da vida, da esperança e da persistência. Em vez do silêncio obsequioso, o verbo precioso. Em vez de qualquer repressão, de moderna inquisição, a palavra, a música que vem do coração", disse o Deputado. Chico afirmou ter aprendido com Boff algo que é um desafio para todos: "Não adianta pregar revolução se nós não nos revolucionamos cotidianamente. Fazer do necessário o suficiente e viver mais simplesmente para que simplesmente todos possam viver", finalizou.