terça-feira, 1 de agosto de 2017

III MARCHA DAS MULHERES NEGRAS - COPACABANA


Por: Tiago Nascimento - 31 de julho de 2017

Empoderamento, protagonismo, orgulho, raça: a III Marcha das Mulheres
Negras no Centro do Mundo levou milhares de mulheres negras de todas
regiões do Rio para Copacabana neste domingo, 30. Quilombolas,
militantes, artistas, religiosos, trabalhadoras e estudantes
compareceram ao evento, que começou às 9 h da manhã e só terminou
depois das 20 h com feira de empreendedoras e uma roda de samba
comandada pelo grupo feminino Só Damas.

Ônibus e vans trouxeram comitivas de todo canto. Entre grupos e
organizações, também estavam famílias inteiras. A participação
masculina foi apenas no apoio ao ato – o dia era delas. O evento
seguiu tranquilo, com palavras de ordem e perfomances. Um dos momentos
mais emocionantes foi quando empregadas e babás que estavam no prédios
à beira-mar foram para as janelas acenar para marcha, recebidas com
aplausos e solidariedade. “Lugar de mulher preta é em todos os
lugares!”, bradava o carro-de-som que comandava a passeata.

Julio Barroso: ‘Todo o poder para a mulher negra’

Com as Yalorixás sempre à frente abrindo os caminhos, a Marcha das
Mulheres Negras lembrou algumas injustiças que entraram para a
história recente, como a saída da cadeia da ex-primeira-dama Adriana
Ancelmo, acusada de fazer parte de esquema de pagamento de propina que
desviou milhões dos cofres públicos e que contrasta com as milhares de
mulheres negras que têm o direito de estar perto de seus filhos negado
pela mesma Justiça que lhe concedeu liberdade.

A cantora Tia Rosa e seus netos. (Créditos: Tiago Nascimento / ANF)

– Eu espero, com a força dos Orixás e dos nossos irmãos, que essa luta
tenha um fim legal. Que nossos filhos possam caminhar tranquilamente
pelas cidades, ir tranquilamente aos shoppings e estudar. A maior
preocupação de uma mãe negra é quando seu filho sai para onde for,
seja para estudo ou para trabalho. Nós morremos um pouquinho em nossas
casas só pensando que eles podem sofrer uma agressão, uma bala
perdida. O racismo é muito cruel, o racismo mata, afirma a cantora Tia
Rosa, moradora do bairro Santa Rita, em Nova Iguaçu.

Estavam presentes as mulheres negras de Itaboraí, município que sofre
com a interrupção das obras do Complexo Petroquímico do Estado do Rio
de Janeiro, paradas desde o início da crise do Estado em 2014: “Somos
do município do Comperj, que deixou muitas mulheres desempregadas.
Hoje, nós estamos marchando pela dignidade desse povo que vive lá. Não
sabemos quando voltam (as obras)“, explica a presidente do Fórum
Permanente de Mulheres Edinéia Nascimento.

Yalorixás vieram à frente da marcha. (Créditos: Tiago Nascimento / ANF)

A luta pela liberdade de Rafael Braga, único preso das manifestações
de 2013, ganhou amplo destaque na III Marcha das Mulheres Negras no
Centro do Mundo. Rafael hoje enfrenta uma acusação de tráfico de
drogas que, segundo ele, teriam sido plantadas por policiais na Vila
Cruzeiro, onde vive sua família. Algumas personalidades femininas da
política também marcaram presença, como a ex-secretária municipal de
cultura Jandira Feghali e a primeira governadora negra do Estado do
Rio Benedita da Silva, que a todo o momento era ovacionada.

– Hoje é nossa realização, de tudo que nós, mulheres negras, estamos
construindo no país. A marcha é pela nossa realização, pelo nosso
bem-viver e pelas trabalhadoras do Estado aposentadas que estão sem
receber seus salários. A marcha é contra o extermínio da comunidade
negra, afirma Lenir Claudino, a Leninha, da Secretaria de Gênero e
Raça do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, Trabalho e Previdência
Social do Estado do Rio de Janeiro (Sindsprev-RJ).

A organização estima que a Marcha das Mulheres Negras levou mais de
dez mil pessoas para a Zona Sul do Rio. O evento superou as
expectativas.

– Foi um sucesso absoluto. Estamos aqui contra o racismo, a
intolerância religiosa, contra a lesbofobia, feminicídio negro, o
genocídio negro, contra todo tipo de preconceito sofrido diariamente
pela população do Rio de Janeiro, em especial as mulheres negras. Já
vamos começar a construir nossa quarta marcha. Vamos marchar todos os
dias para dizer não a este governo golpista, resume Ignez Teixeira,
uma das organizadoras da marcha e membro do Fórum Estadual de Mulheres
Negras do Rio de Janeiro.
Tiago Nascimento colaborador ANF, gosto de contar boas histórias através do cinema, do jornalismo e da poesia. Também gosto de distribuir o jornal A VOZ DA FAVELA, tenho um ponto de distribuição no bairro da Glória, perto da rua Candido Mendes. Apareçam para um bate-papo.

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