BRASÍLIA (Reuters) - Ao completar um ano preso este domingo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz, em artigo publicado na Folha de S. Paulo, que ainda está preso para que seja impedido de reorganizar a oposição no país e que não há nada que sustente sua prisão.
"Por que têm tanto medo de Lula livre, se já alcançaram o objetivo que era impedir minha eleição, se não há nada que sustente essa prisão? Na verdade, o que eles temem é a organização do povo que se identifica com nosso projeto de país. Temem ter de reconhecer as arbitrariedades que cometeram para eleger um presidente incapaz e que nos enche de vergonha", escreveu Lula.
Ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
"Eles sabem que minha libertação é parte importante da retomada da democracia no Brasil. Mas são incapazes de conviver com o processo democrático", termina o ex-presidente em seu artigo. Ao completar um ano preso este domingo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz, em artigo publicado na Folha de S. Paulo, que ainda está preso para que seja impedido de reorganizar a oposição no país e que não há nada que sustente sua prisão.
"Por que têm tanto medo de Lula livre, se já alcançaram o objetivo que era impedir minha eleição, se não há nada que sustente essa prisão? Na verdade, o que eles temem é a organização do povo que se identifica com nosso projeto de país. Temem ter de reconhecer as arbitrariedades que cometeram para eleger um presidente incapaz e que nos enche de vergonha", escreveu Lula.
"Eles sabem que minha libertação é parte importante da retomada da democracia no Brasil. Mas são incapazes de conviver com o processo democrático", termina o ex-presidente em seu artigo.
O presidente se entregou à Polícia Federal em 7 de abril de 2018 depois de ser condenado em segunda instância, por corrupção e lavagem de dinheiro, no caso do apartamento tríplex no Guarujá, em que é acusado de ter recebido o imóvel em troca de benesses a empreiteiras.
Lula mantém a defesa de que foi condenado sem provas e que nada encontraram para incriminá-lo, "nem conversas de bandidos, nem malas de dinheiro, nem contas no exterior".
"O Supremo negou-me um justo pedido de habeas corpus, sob pressão da mídia, do mercado e até das Forças Armadas, como confirmou recentemente Jair Bolsonaro, o maior beneficiário daquela perseguição", escreveu.
Tudo isso, afirma o ex-presidente, para impedi-lo de concorrer às eleições em 2018.
Desde a semana passada, o PT e movimentos sociais organizam caravanas e manifestações lideradas pelo ex-candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, e sua vice, Manuela D'Ávila (PCdoB). Na manhã deste domingo, movimentos sociais se reuniram em frente à Polícia Federal em Curitiba, onde Lula está preso, para o "Bom dia, presidente Lula", feito todas as manhãs.
Um verdadeiro palco da história do Brasil ao alcance do seu bolso, do seu orçamento e para encantar seus olhos e de quebra ensiná-lo sobre a cultura do país. Isso mesmo, os museus do Rio de Janeiro são uma atração à parte, em meio ao leque de opções como as praias, rodas de samba e dos característicos pontos turísticos da cidade.
Mais do que um passeio acessível, os locais preservam parte da identidade brasileira que pouca gente conhece e está longe do roteiro tradicional de turismo. Já imaginou estar onde Getúlio Vargas governou o país e tirou a própria vida? Ou conhecer onde ficava o mercado de venda dos negros cativos? Ou mesmo estar no ambiente das articulações políticas? Ou no cenário onde militares decidiam as estratégias? Ou onde presidentes e governantes fizeram escolhas?
Não perca tempo! A reportagem do Jornal do Brasil listou alguns locais para você explorar a nossa história na cidade maravilhosa, sendo uma alternativa de lazer com muita cultura. Confira:
Museu da República
Museu da República, que fica no Palácio do Catete, no bairro do Catete, na Zona Sul do Rio (Foto: Divulgação/Museu da República)
Quando estiver no Rio aproveite para visitar o Museu da República, que fica no Palácio do Catete, construído entre 1858 e 1867.
Palco de acontecimentos históricos e de arquitetura impecável, o local foi a sede do Poder Executivo brasileiro no período de 1897 a 1960, quando a cidade ainda era a capital brasileira.
A visita é rica sob o ponto de vista histórico: local conhecido pelo suicídio, em 1954, do então Presidente da República Getúlio Vargas, em seu quarto, dando desfecho a uma das mais contundentes crises político-militares republicanas. Uma exposição permanente conserva os ambientes com móveis e utensílios da época.
O visitante pode ler a carta deixada por ele antes de sua morte, a cama em que se deitava, os móveis que guarneciam o local, o revólver – e a famosa bala que matou Getúlio Vargas.
Durante a caminhada há vários quadros explicativos sobre as diversas fases da República Federativa do Brasil, intercalando textos e fotos, galeria dos Presidentes, além dos símbolos nacionais. É lá também que está o famoso quadro da Constituinte, que só vemos nos livros de história.
Serviço
Horário de visitação: de terça à sexta, de 10h às 17h; e nos sábados, domingos e feriados, de 11h às 18h
Endereço: Rua do Catete 153, Catete, na Zona Sul do Rio
Ingressos: R$ 6
*Professores, maiores de 60 anos e crianças até 10 anos não pagam. Já estudantes e menores de 21 anos têm 50% de desconto
O Museu Histórico Nacional ocupa todo o complexo arquitetônico da Ponta do Calabouço e tornou-se o mais importante museu de história do país, reunindo um acervo com cerca de 258 mil itens, entre objetos, documentos e livros, e sendo uma instituição de produção e difusão de conhecimento.
O local também possuiu uma área aberta ao público, galerias de exposições de longa duração e temporárias, além da Biblioteca especializada em História do Brasil, História da Arte, Museologia e Moda, do Arquivo Histórico, com importantes documentos manuscritos, aquarelas, ilustrações e fotografias, entre as quais exemplares de Juan Gutierrez, Augusto Malta e Marc Ferrez. Mantém, ainda, programas voltados para estudantes, professores, terceira idade e comunidades carentes. As áreas de Reserva Técnica, Laboratório de Conservação e Restauração Numismática (coleção de moedas e outros valores impressos) podem ser consultadas, mediante agendamento prévio. Pitorescos pátios internos e uma simpática cafeteria oferecem opções agradáveis para um momento de repouso.
Ao longo dos séculos, outras edificações somaram-se à Fortaleza, como a Prisão do Calabouço (1693), destinada ao castigo de escravos; a Casa do Trem (1762), para a guarda do “trem de artilharia” (armas e munições); o Arsenal de Guerra (1764) e o Quartel para abrigar as tropas militares (1835).
Por sua localização estratégica para defesa da Baía de Guanabara e da própria cidade, a região foi uma área militar até 1908, quando o Arsenal de Guerra foi transferido para a Ponta do Caju.
Na década de 1920, a Ponta do Calabouço foi aterrada e reurbanizada para acolher a Exposição Internacional comemorativa do Centenário da Independência do Brasil. Para integrar o evento, as edificações do antigo Arsenal de Guerra foram ampliadas e “embelezadas”, com decoração característica da arquitetura neocolonial.
Em 1922, foram abertas ao público, abrigando o “Palácio das Grandes Indústrias”, um dos mais visitados pavilhões da Exposição do Centenário, e duas galerias do Museu Histórico Nacional, criado naquele mesmo ano pelo Presidente Epitácio Pessoa para dotar o Brasil de um museu dedicado à história nacional.
Serviço
Horário de visitação: terça a Sexta-feira das 10h às 17h30 e nos Sábados, Domingos e Feriados das 13h às 17h
Endereço: Praça Marechal Âncora s/n°, no Centro do Rio
Ingressos: Inteira: R$ 10,00 e Meiaentrada:R$ 5,00
*Pessoas com idade até 21 anos e a partir de 60 anos;
*Pessoas com deficiência e seu acompanhante;
*Estudantes de escolas particulares;
*Estudantes de universidades particulares e públicas;
O Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro foi criado como reflexo da expansão dos museus no século XIX e suas origens estão ligadas ao princípio da República no Brasil e ao papel de centro político que o Rio de Janeiro representava nesse contexto. Por meio de um acervo artístico e documental acessível a todos, o MHCRJ é um museu em que a história do carioca e sua identidade urbana podem ser analisadas e explicadas. O site do Museu traz outras informações sobre a coleção do Museu e o Parque da Cidade.
Seu vasto acervo documental, arquivístico e museológico, com cerca de 24.000 peças, representa um importante registro sobre a cidade do Rio de Janeiro e que abrange diferentes categorias, apresenta caráter nacional. Nele encontram-se também obras de artistas consagrados como Visconti, Thomas Ender, Antônio Parreiras, Armando Vianna, Augusto Malta e Marc Ferrez, além dos acervos dos prefeitos Pereira Passos, Pedro Ernesto, Carlos Sampaio e César Maia.
Desde 1891, as autoridades do governo recém-instalado manifestavam preocupação em recolher objetos representativos, que interessassem à história da cidade. Contudo, sua criação só ocorreu na administração do Prefeito Pedro Ernesto através do Decreto Nº 4989 de 11 de julho de 1934.
Serviço
Horário de visitação: das 10h às 17h, de terça-feira a domingo, incluindo feriados (exceto os dias de Ano Novo, Carnaval, Sexta-Feira Santa e Natal).
Endereço: Estrada Santa Marinha, s/nº, acesso pela Rua Marquês de São Vicente, Gávea
Ingressos: gratuito
site oficial: http://museudacidadedorio.com.br
Museu dos Pretos Novos
Museu dos Pretos Novos (Foto: divulgação)
Pretos Novos era o nome dado aos cativos recém-chegados da África e desembarcados no Rio de Janeiro, em meados do século XIX, em uma área da cidade chamada, então, de Pequena África. Neste local, hoje a zona portuária da Gamboa, ficava o mercado de venda dos negros cativos. É o que conta o site Museus do Rio.
O memorial é um sítio arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos que funcionou no local, entre os anos de 1769 e 1830, um ato de reverência e respeito aos milhares de negros recém-chegados à colônia, mortos ou doentes devido aos maus tratos durante a travessia do Atlântico.
Estima-se que ali tenham sido depositados, em valas coletivas, os corpos de 20 a 30 mil negros, muito embora estes números não façam parte dos registros oficiais.
Com a proibição do tráfico negreiro, o cemitério foi fechado e a memória de sua existência sepultada em razão dos sucessivos aterros ocorridos na região, assim como ao apagamento de parte importante da história da escravidão na cidade do Rio de Janeiro.
Serviço
Horário de visitação: de terça à sexta das 13h as 19h e aos sábados das 11 as 14h. Domingo não abre para visitação.
Endereço: Rua Pedro Ernestro, 32 - Gamboa
site oficial: http://pretosnovos.com.br
Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana
Forte de Copacabana, na Zona Sul do Rio (Foto: Produção Gráfica - MHEx/FC)
Você sabia que o Museu Histórico do Exército Brasileiro é um dos principais museus militares do Brasil? Ele tem a missão de preservação, salvaguarda e divulgação da memória histórica do Exército Brasileiro e ocupa parte do histórico Forte de Copacabana desde 1987, recebendo mais de 40 mil turistas.
Localizado na praia de Copacabana, na zona sul do Rio, é uma das maiores fortalezas da América do Sul e foi inaugurado em 1914 para evitar que navios inimigos se aproximassem da Baía de Guanabara.
O local apresenta importantes fatos da nossa história militar terrestre onde são contatos: nos salões Colônia Império, o período de 1500 a 1889, desde a chegada dos portugueses até a queda da monarquia e a Proclamação da República.
Já o salão República, mostra a atuação do Exército até 1945, desde Floriano Peixoto até a participação na 2ª Guerra Mundial.
O forte também foi palco de eventos que hoje fazem parte da História do Brasil como o Movimento Tenentista de 1922; o Levante dos 18 do Forte; como quando serviu de prisão para o Presidente da República deposto, Washington Luís, durante a Revolução de 1930; como local de reunião do Comando envolvido na chamada Revolução de 1964.
Dentro do museu, o visitante conta com uma atração à parte, a Confeitaria Colombo. Com vista para a orla da praia mais famosa do mundo, o Pão de Açúcar, a filial conta com todo o cardápio da matriz original e tradicional com seus salgados e doces e claro, a tradicional torrada Petrópolis!
Fundada por portugueses em 1894, a Confeitaria Colombo tem sua sede na região central do Rio de Janeiro. Chiquinha Gonzaga, Lima Barreto, Getúlio Vargas e JK foram alguns dos clientes famosos que provaram seus famosos quitutes.
Serviço
Horário de visitação: Segundas-feiras não há visitação
Museu Histórico do Exército, Fortificação e Exposições:
- Terça a domingo e feriados, das 10h às 18h
Alameda, Cúpula dos Canhões, Cafés e Loja:
- Terça a domingo e feriados, das 10h às 19h30
Endereço: Praça Coronel Eugênio Franco n. 1 - Posto 6 - Copacabana, na Zona Sul
Ingresso:
- Inteira R$ 6,00
- Meia-entrada (mediante comprovação): R$ 3,00 (Professores das redes públicas de ensino;
Estudantes das redes públicas e privada; maiores de 60 anos; e portadores da ID Jovem.
- Isentos/ mediante comprovação: Militares das Forças Armadas e Forças Auxiliares do Brasil e dependentes; Militares das Forças Armadas e Forças Auxiliares estrangeiras, desde que fardados; Maiores de 80 anos; Pessoas com deficiência; Menores de 6 anos; Guias Turísticos; e Grupos agendados.
Por ESTADÃO CONTEÚDO - Atualizado às 16h25 de 07/04/2019
História afro-brasileira nas escolas eleva autoestima de crianças - Pixbay
Rio - Aos quatro anos de idade, o filho da historiadora Luciana Brito, de 40 anos, já estava passando pela terceira escola infantil. O menino tinha frequentado instituições "excelentes", mas que ainda careciam de uma ênfase na cultura afro-brasileira e indígena, algo que a mãe sentia falta. No ano passado, ela conheceu o projeto pedagógico da Escolinha Maria Felipa, em Salvador, na Bahia, que nasceu para atender essa demanda - dela e de outros pais da cidade.
"É comum ver nas crianças estranhamento com o cabelo, por exemplo, noções de belo e feio. Meu filho tem total conforto com o dele e acha qualquer tipo bonito. Eu, como pessoa negra, aprendi que meu cabelo tinha problema, meu corpo, meu nariz, minha cor. Meu filho, na formação da subjetividade dele, já entendeu que é belo, inteligente, um menino que dá e recebe afeto", conta Luciana.
O ensino oferecido na escola particular Maria Felipa resgata os grandes feitos dos antepassados negros para que as crianças tenham prazer de ser descendentes deles. "[Queremos mostrar] que os antepassados vieram de grandes impérios, são filósofos, rainhas, reis, que o conhecimento ameríndio é avançado, não é menor que a ciência moderna", diz Ian Cavalcante, sócio-diretor da escola.
As atividades, segundo ele, valorizam o conhecimento além dos eurocêntricos, mas sem abandoná-los. "A ideia é valorizar tudo." A apresentação dos números para as crianças, por exemplo, é feita mostrando a foto de uma tábua de contar egípcia (ábaco egípcio) e contando a história por trás dela. "Isso fortalece a autoestima do meu filho e faz diferença para ele como criança e, sem dúvida, quando for adulto", diz Luciana, que afirma também repassar esses valores para o menino em casa. O currículo da escola bilíngue inclui capoeira ensinada em português, danças latinas e circo em espanhol, além de parte do conteúdo em inglês
A Maria Felipa ficou conhecida há pouco mais de duas semanas quando uma publicação nas redes sociais viralizou. Na ocasião, uma mãe que estava em busca de uma escola questionou sobre a presença de um professor transexual na instituição. Após sugerir que o número de matrículas havia diminuído devido a isso, a escola respondeu: "Quem acha que uma pessoa trans, apenas por ser trans, não pode educar seu filho não merece a nossa escola"
Cavalcante conta que foi a primeira vez que uma situação como essa ocorreu e afirma que, quem faz parte da comunidade da escola, a escolheu justamente por seu posicionamento. Mas a diversidade de gênero não é a única questão defendida, visto que trabalha em prol do respeito étnico-racial.
Primeiros passos
A escola de educação infantil nasceu de uma preocupação de Cavalcante e da mulher dele, que também é professora. "Estávamos em um processo longo de adoção, em que pedimos uma menina preta de três a seis anos, e começamos a nos preocupar em qual escola colocá-la", conta. Professor bilíngue de uma escola particular de classe média alta em Salvador, ele diz que descartou todas as instituições desse nível por terem um "ensino muito eurocêntrico, de valores de competição, muito caras e com poucas crianças negras". O casal cogitou colocar a filha numa escola pública, mas pensou que a vaga poderia ser ocupada por outra cuja família teria necessidades maiores que as dele.
Brincando, eles pensaram em criar a própria escola, mas depois o assunto ficou sério quando começaram a discutir sobre pedagogia histórico-crítica. "Tinha de ser uma escola com princípios que buscassem uma sociedade mais equânime e priorizasse as matrizes ancestrais, africanas e ameríndias", relata Cavalcante. No final de 2017, eles conversaram com profissionais da educação, pessoas da militância negra e ameríndia, acadêmicos e elaboraram o projeto pedagógico da futura escola. No ano seguinte, fizeram eventos para apresentar a proposta e há dois meses iniciaram o primeiro ano letivo.
Atualmente, a instituição atende 33 crianças, de dois a cinco anos de idade. "A construção da autoestima, da autoimagem no mundo, ocorre nessa faixa etária e é essencial que as crianças não se sintam deslocadas ou não carreguem preconceito e discriminação", diz o diretor. A escola tem uma campanha de arrecadação online a fim de conceder dez bolsas para crianças em vulnerabilidade social.
Tecidos africanos na matemática
Em São Paulo, a professora Conceição França atinge duas questões com a mesma proposta: ensinar cultura africana e melhorar o desempenho dos alunos em matemática, disciplina que costuma ter notas baixas em avaliações.
Ela leciona na EMEF Antonio Duarte de Almeida, localizada na periferia na zona leste da cidade. É nessas regiões afastadas, onde ela trabalha há 30 anos, que se encontra grande parte da população negra. Em suas pesquisas acadêmicas, ela abordou a autoimagem da criança negra e percebeu que, na maioria dos casos, é negativa.
"Sempre trabalhei a questão étnico-racial, por ser negra, por entender as questões de racismo e preconceito e por acreditar que a escola é um lugar onde a gente pode positivar a identidade dessas crianças", diz Conceição. Por isso, já há alguns anos, ela trabalha a cultura afro-brasileira com as turmas, fazendo valer a Lei 10.639, de 2003, que torna obrigatório o ensino sobre história e cultura afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio. Uma das abordagens que ela adota é o uso de tecidos africanos para ensinar simetria e geometria.
Ela utiliza um material específico, o pano da terra, feito por artesãos de Guiné-Bissau e Cabo Verde, de onde a professora os trouxe. Os tecidos têm padrões geométricos que são transpostos pelas crianças para o papel quadriculado. Mas, antes de chegar a isso, ela faz a interdisciplinaridade, ou seja, mostra onde está Cabo Verde, qual a cultura do local, o que é feito por lá.
Isso permite trabalhar a cultura africana em história, geografia, português, literatura e informática. "Quando se vai trabalhar história e cultura africana, é muito importante que seja amplo, que a criança tenha uma visão geral." Ao chegar na matemática, a bagagem de conhecimento já está cheia.
"O resultado é sempre muito bom, percebo isso nas falas [das crianças], na melhora do comportamento, nas relações entre elas. As não negras passam a respeitar mais as negras e estas se sentem mais valorizadas, porque sabem que seus antepassados tinham muito conhecimento", afirma Conceição.
Com a implementação da afro-étnico-matemática, ela observou que, nas avaliações, a escola melhorou de forma significativa o aprendizado da disciplina. "A gente trabalha esse conhecimento na prática, ela vivencia, é o concreto: olha o tecido, desenha, constrói outro desenho. Eles aprendem na prática."
Ruanda lembra neste domingo 25 anos de genocídio que deixou 800 mil mortos
Evento
inclui uma procissão pela capital até o Estádio Nacional de Kigali, onde
30 mil pessoas devem participar de uma cerimônia à luz de velas à noite
Por
ESTADÃO CONTEÚDO
Ruanda lembra neste domingo 25 anos de genocídio que deixou 800 mil mortos - AFP
São Paulo - Ruanda
lembrou neste domingo o início, há 25 anos, do genocídio que matou 800
mil pessoas, enquanto o país continua a lidar com as consequências
duradouras dos assassinatos em massa. O presidente Paul Kagame e a
primeira-dama Jeannette Kagame colocaram coroas de flores e acenderam
uma chama no cemitério em massa de 250 mil vítimas no Centro Memorial do
Genocídio de Kigali, na capital do país, Kigali. Participaram da
cerimônia líderes do Chade, Congo, Djibuti, Níger, Bélgica, Canadá,
Etiópia, bem como a União Africana e a União Europeia. "Estou comovido
além das palavras neste memorial à tragédia", disse o presidente da
Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
O evento inclui uma procissão pela capital até o
Estádio Nacional de Kigali, onde 30 mil pessoas devem participar de uma
cerimônia à luz de velas à noite. "Vinte e cinco anos atrás, Ruanda caiu
em uma vala profunda devido à má liderança, hoje, somos um país de
esperança e uma nação elevada", disse Agnes Mutamba, 25, que nasceu
durante o genocídio. "Hoje, o governo uniu todos os ruandeses como um
povo com a mesma cultura e história e está acelerando a transformação
econômica", disse Oliver Nduhungihere, ministro de Relações Exteriores
da Ruanda.
O assassinato em massa da minoria tutsi de Ruanda foi
desencadeado em 6 de abril de 1994, quando um avião que transportava o
presidente Juvenal Habyarimana foi abatido e caiu em Kigali, matando o
líder que, como a maioria dos ruandeses, era um hutu étnico. A minoria
tutsi foi culpada por derrubar o avião, e bandos de extremistas hutus
começaram a massacrar os tutsis, com apoio do Exército, da polícia e das
milícias.
O governo de Kagame acusou anteriormente o governo
liderado pelos hutus de 1994 de ser responsável por abater o avião e
culpou o governo francês por fechar os olhos ao genocídio. Na
sexta-feira, o presidente francês Emmanuel Macron ordenou um estudo do
governo sobre o papel do país em Ruanda antes e durante o genocídio de
1994. Em uma breve declaração, Macron expressou neste domingo
"solidariedade com o povo de Ruanda".
Kagame é elogiado por acabar com a violência e avançar
no desenvolvimento econômico e na saúde, embora seja criticado por
controle autoritário. A reconciliação étnica é a pedra angular do
governo de Kagame, o líder de fato de Ruanda desde o fim do genocídio de
1994 e presidente do país desde 2000. Ele é considerado responsável por
promover estabilidade, crescimento econômico e melhoria da saúde e
educação. No entanto, os críticos de Kagame dizem que ele é intolerante
às críticas e que seu governo é repressivo, prendendo líderes da
oposição. Alguns oponentes afirmam que a reconciliação de Ruanda é
forçada.
Um quarto de século após o genocídio, corpos de vítimas
ainda estão sendo encontrados. No ano passado, autoridades em Ruanda
descobriram sepulturas em massa que contendo 5.400 corpos de vítimas do
genocídio. "Vinte e cinco anos depois, as vítimas e os sobreviventes
devem permanecer no centro dos pensamentos de todos, mas também devemos
fazer um balanço do progresso e da necessidade de garantir
responsabilização para todos aqueles que dirigiram esses atos
horríveis", disse a Human Rights Watch.
"A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalhas e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas. Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas e as coisas que não tem voz".
(Ferreira Gullar)